Brazil
January 28, 2014
O Sistema Farsul, por meio da Casa Rural, fará um levantamento do trigo já segregado disponível para comercialização produzido pelo Rio Grande do Sul. A instituição irá estimular o triticultor gaúcho para os próximos plantios a seguir um modelo de segregação com o objetivo de fazer com que o trigo colhido no Estado atenda às demandas da indústria. A iniciativa será disseminada por meio de seminários.
Nesta quinta-feira (23/01), na sede da Farsul, em Porto Alegre, foi realizada uma reunião com representantes do Ministério da Agricultura, da cadeia produtiva, da indústria do trigo e de pesquisa para discutir a qualidade do produto colhido no Estado. O encontro foi organizado pelo Sistema Farsul em virtude das dificuldades de comercialização de grande parte da safra gaúcha até o presente momento.
O Rio Grande do Sul teve em 2013 uma das melhores colheitas dos últimos anos. Foram 3,17 milhões de toneladas (segundo o último levantamento da Conab), superando inclusive o Paraná; o que representa 57,7% da produção nacional desta safra. Ainda assim, o Estado enfrenta dificuldades para escoar todo o produto. Estima-se que haja atualmente cerca de 2 milhões de toneladas de trigo nos armazéns gaúchos aguardando comercialização. “A Farsul defende a posição de que a estocagem do produto seja feita pela indústria, e não pelo produtor, para um consumo em 12 meses”, declara o presidente do Sistema Farsul, Carlos Sperotto. A segregação consiste em separar os quatro principais tipos de trigo – melhorador, pão, doméstico e básico. A expectativa é de que, ao seguir este processo, o produtor possa optar por cultivar o tipo de trigo que tem mais apelo comercial. “A Federação da Agricultura, através da Casa Rural, está acompanhando este processo. Estamos fazendo um levantamento para saber a disponibilidade de trigo segregado da atual safra e quem está disposto a assumir um compromisso de produzir e segregar. Nosso objetivo é atender a demanda de quem está nos fazendo a encomenda. Vamos trabalhar neste sentido”, explica o presidente do Sistema Farsul, Carlos Sperotto.
Levantamento aponta que 51,51% do trigo gaúcho é do tipo melhorador ou pão
Um levantamento feito pelo gerente técnico do Laboratório de Cereais da Universidade de Passo Fundo, o engenheiro agrônomo Luiz Carlos Gutkoski, e analisado pelo chefe da Embrapa Trigo, o engenheiro agrônomo Sérgio Dotto, avaliou o quanto o tipo pão e melhorador representam do total produzido no Estado. A partir da observação de 497 amostras, que levou em consideração a força de glúten e a estabilidade do trigo, se concluiu que 51,51% eram de uma das duas categorias exigidas pela indústria para a produção do pão. Do total, 37 amostras eram do tipo melhorador – representando 7,45%, enquanto 219 eram do tipo pão – representando 44,06%. Com isso, chega-se a um total de 51,51% de grãos de um dos dois tipos. O restante da análise mensurou 219 amostras de trigo doméstico (44,06%), e 22 de trigo básico e outros usos (4,43%).
O chefe geral da Embrapa Trigo esclarece que todos os tipos de trigo têm uma finalidade na indústria. “Todas elas [as categorias] são de trigo importante, porque cada produto derivado do trigo exige uma determinada qualidade”, explica Dotto.
Indústria diz que não pode armazenar e que atende a exigências dos clientes
Representantes da indústria presentes ao encontro alegam que embora a qualidade do trigo gaúcho venha melhorando ao longo dos anos, ainda está aquém do esperado. Além disso, alega-se que há dificuldade dos moinhos de adquirirem o produto em pouco espaço de tempo, uma vez que o período de armazenagem de que a indústria dispõe é de cerca de 40 dias. “Os moinhos têm que comprar trigo o ano inteiro. Temos um problema crônico de sazonalidade. É muita oferta de trigo em um período curto”, declara o presidente do conselho deliberativo da Abitrigo e presidente do Sinditrigo no Paraná, Marcelo Vosnika.
O secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Neri Geller, declarou que o governo federal busca alternativas para que a indústria possa assumir esta responsabilidade. “O produtor não pode carregar todo o estoque durante o ano. Ele tem o período que ele colhe e a indústria tem que ser abastecida durante o ano. O que nós estamos fazendo é abrir um programa de armazenagem para que a indústria possa acessar estes recursos para isso”, promete.
Os representantes da indústria também alegam que a exigência por determinado tipo de trigo para a produção do grão vem por parte dos consumidores. “A Abitrigo busca atender a seus clientes. Quem está exigindo do produtor é o mercado. Seria muito mais fácil comprar trigo do Rio Grande do Sul, só que somos exigidos na outra ponta”, declara.
Secretário garante que ministério não voltará a isentar a TEC
Uma das principais queixas do setor produtivo no que diz respeito ao excesso de trigo ainda estocado no Estado é a liberação feita no ano passado pelo governo federal para que entrassem no país cerca de 3,150 milhões de toneladas de trigo sem a Tarifa Externa Comum (TEC) até 30 de novembro. O secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Neri Geller, garantiu que, no que depender da pasta, esta medida não voltará a ser adotada. “Fomos obrigados a liberar a importação com TEC zero porque o trigo estava acima de R$ 850,00. A hora que houve sinalização no recuo do valor nós imediatamente cancelamos. Isso [repetir a medida] está completamente fora de cogitação, a não ser que os preços cheguem a R$ 900 e tiver um impacto inflacionário que a gente não possa segurar no Ministério da Agricultura. Somos completamente contra. Posso assegurar que essa é a posição do Ministério da Agricultura”, defende.