Brazil
March 26, 2012
Chama a atenção a rapidez da expansão do milho transgênico no Brasil. Em apenas quatro safras, já é quase 65% o índice de adoção por área plantada, bem acima, por exemplo, dos 39% registrados pelo algodão, cujo plantio transgênico foi autorizado há oito safras.
De acordo com Anderson Galvâo, da Céleres, empresa de consultoria em mercado agrícola, "hoje, o produtor de milho paga mais satisfeito R$ 400,00 por saca de milho transgênico do que pagava, antes, RS 100,00 / RS 120,00 por milho convencional".
O assunto foi a discussão de um dos painéis do workshop sobre milho transgênico, que terminou nesta sexta-feira, 9 de março, na Embrapa Milho e Sorgo, em Minas Gerais, abrangendo os custos e os benefícios da produção desse tipo de cereal. Quatro profissionais de diferentes áreas de atuação deram contribuições para o debate.
Anderson Galvâo lembrou que, do ponto de vista histórico, após muita discussão, chegou-se, no Brasil, a um ritmo por ele considerado normal de trabalho no que se refere à avaliação e à eventual aprovação de transgêni-cos. Segundo Anderson, a primeira avaliação da CTNBio (Comissão Técnica Nacional de Biossegurança), realizada em 1999, demorou 100 meses. Hoje, o tempo gasto gira em torno de 10 meses.
Atualmente, há 33 eventos transgênicos aprovados no Brasil para quatro culturas agrícolas diferentes. O milho lidera, com 18 eventos, seguido do algodão, com nove, da soja, com cinco, e do feijão, com um. Em termos de área total cultivada com transgênicos, também de acordo com a Céleres, o milho de inverno (ou milho segunda safra ou, ainda, milho safrinha) registrou quase 83% no último plantio, aproximando-se bastante da soja, que teve mais de 85% de adoção.
Também segundo números da Céleres, no ano agrícola 2010/2011, cerca de 77% da área plantada com alta tecnologia produziu quase 94% do milho no país. Comple-mentarmente, nos outros 23% de área, onde a adoção de tecnologia foi baixa, pro-duziu-se os mais de 6% restantes. A avaliação feita por Anderson é de que esse desequilíbrio no quadro de oferta de milho é resultado da existência de duas realidades na produção: de um lado, produtores que usam alta tecnologia e têm forte interação com o mercado; de outro, produtores que usam pouca tecnologia e interagem pouco com o mercado.
"Hoje, é mais simples, com a adoção do milho transgênico, produzir milho que soja. Há cinco anos, era o contrário", defende Anderson, para quem os produtores brasileiros estão plantando por existirem opções adaptadas às diferentes regiões. Em termos de rentabilidade, atualmente é mais vantajoso para os produtores de alta tecnologia plantar milho transgênico do que algodão.
O professor José Maria da Silveira, da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), falou sobre os impactos da regulação no cultivo do milho. Segundo ele, é difícil encontrar algum produtor que tenha revertido a opção, ou seja, que antes plantava transgênico e deixou de plantar. Para o professor, o debate hoje não é mais sobre plantar transgênico ou convencional, já que ele considera a transgenia uma estratégia vencedora. O que é preciso debater são os impactos ambientais. Num novo ambiente de complexidade, a geração e a difusão de inovações caminham juntas.
Em relação à agricultura, o professor lembra que o Brasil é um país muito heterogêneo e que há produtores que acabam não utilizando a tecnologia da maneira correta. José Maria considera legítimo o debate que se trava sobre novas tecnologias, como tem ocorrido com os transgêni-cos, mas diz que o mesmo não acontece com a nanotec-nologia, que também passa por grande expansão.
Após vários estudos de rotas de produção de milho no Brasil, o professor concluiu que "a exigência de testes para segregação de cargas afeta a produção, principalmente no Centro-Oeste". Ou seja, a necessidade de identificação de eventos transgêni-cos nas cargas de milho transportadas causa impacto sobre o comércio de grãos, entre eles o milho.