Brazil
April 23, 2024
Dor de cabeça da maioria dos agricultores, as plantas daninhas são sinônimo de prejuízo na lavoura. Algumas espécies, como a buva, estão espalhadas em mais de 19 milhões de hectares no país e causam perdas relevantes na principal cultura do agronegócio brasileiro, a soja. Estima-se que 4 a 12 plantas de buva por metro quadrado que sobrem da dessecação podem reduzir de 4 a 12% a produtividade da soja. E em um cenário de desafios nas últimas safras de verão, tomar medidas efetivas para reduzir os impactos das invasoras na lavoura pode ser a diferença entre uma propriedade que fecha a conta no azul e uma que fica no vermelho.
Durante o Seminário Técnico do Trigo de 2024, promovido pela Biotrigo Genética, a temática ganhou destaque. Mauro Rizzardi, professor da Universidade de Passo Fundo (UPF) e fundador da Up.Herb, plataforma educativa especializada em plantas daninhas, foi um dos palestrantes do evento. Segundo ele, o manejo de plantas daninhas atualmente precisa ser feito através de medidas integradas, desde a escolha da cultivar e sua época de semeadura. “Controlar plantas daninhas é feito inclusive com herbicidas. Eles são um instrumento importante, mas não podem ser o único”, cita.
Para Mauro, o produtor deve olhar para o seu sistema produtivo e observar quais soluções ele irá utilizar. E uma das mais eficientes, sob a ótica do manejo integrado de plantas daninhas (MIPD), é o cultivo do trigo durante o inverno. “Realizando uma boa dessecação e semeando o trigo no limpo, conseguimos fazer com que a cultura cubra rapidamente o solo e diminua o fluxo de emergência das plantas daninhas que vão ocorrer nesta época e respondem à luz, sendo a buva a principal delas”, menciona. Como consequência dessa redução de plantas daninhas, o trigo faz com que a quantidade de herbicidas no pré-plantio da cultura da soja seja reduzida. “Esse é um benefício que muitas vezes o produtor não quantifica, mas que vai impactar em um menor custo de controle de invasoras na soja”, aponta.
Resultados de pesquisa realizada pela UPF em 2006 apontam que a ocorrência média de buva em uma lavoura de soja pós-pousio era de 26,7 plantas por m². Já quando o trigo era inserido no sistema, como a cultura antecessora à soja, a ocorrência foi reduzida para 3,4 plantas por m². Na safra de 2023, a área de trigo na região Sul girou em torno de 3 milhões de hectares, de acordo com dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Quando observamos a área de soja, porém, percebemos uma grande disparidade, com cerca de 13 milhões de hectares cultivados. “O Paraná ainda possui uma vantagem, com a forte presença do milho safrinha, mas de forma geral, percebemos uma grande defasagem na área de inverno, que poderia estar sendo utilizada com alguma cultura para trazer retorno econômico e agregar dentro do sistema, não permitindo a multiplicação dessa quantidade de sementes na área”, indica Mauro.
Variabilidade da população é desafio no controle das invasoras
A lógica é simples. Uma área sem cobertura no inverno gera aumento na população de plantas daninhas. Esse aumento, por sua vez, gera maior dificuldade no controle da população, devido à variabilidade genética. “Quanto maior a população de uma daninha na área, mais diferentes serão seus indivíduos, o que impacta em uma desafio cada vez maior no controle”, pontua Mauro. De acordo com o professor, uma planta de buva que sobra do pousio irá produzir de 200 a 400 mil sementes. “Esse fator, por si só, já justifica a montagem de estratégias de controle”, atesta.
Junto à cobertura da área durante o período do inverno, para reduzir o banco de sementes de invasoras, é recomendado que o agricultor varie os cultivos dentro da propriedade. “Toda vez que eu uso somente uma cultura, como a soja, eu vou utilizar os mesmos herbicidas. Assim, há uma tendência de eu selecionar a resistência a partir da repetição de herbicidas”, afirma. Essa adaptação aos produtos ajuda a explicar o porquê doses de 1 litro por hectare utilizadas anos atrás passaram a ser insuficientes para o controle de certas daninhas, ocasionando em um gradual aumento da dose e, consequentemente, do custo de produção.
O desafio das plantas daninhas dentro da cultura do trigo
Em sua palestra, Rizzardi também abordou os desafios de manejo das plantas daninhas dentro da cultura do trigo em si. Para o Rio Grande do Sul, de forma geral, o azevém se coloca como a principal planta daninha do estado, seguido pela buva e pelo nabo. No Paraná, o nabo e o azevém também causam prejuízos, mas perdem protagonismo para as aveias, que costumam se apresentar como as principais invasoras do estado. No Cerrado, cresce a presença do capim pé-de-galinha, da trapoeraba e da vassourinha-de-botão, dentre outras. Ainda, se apresentam como importantes plantas daninhas secundárias da cultura do trigo a cevadilha, serralha, erva-de-passarinho, flor-roxa, capim-amargoso e cipó-de-veado. “Cada região terá a sua particularidade quanto às espécies de plantas daninhas e a sua maior ou menor dificuldade de controle”, menciona.
Tendo em vista o controle de aveias e azevém, Mauro aponta que o manejo deve ser feito sempre antes da planta produzir sementes. “Se eu fizer um bom manejo pré-plantio e depois pré-emergência, eu vou manter no trigo uma população baixa de azevém e aveias, o que ao longo do tempo contribui para a redução do banco de sementes dessas plantas”, cita. Com essa diminuição, o produtor passa a ter maior eficácia nas alternativas químicas. “Para aveias e azevém, atualmente enxergo que o manejo químico passa pelo uso de pré-emergentes e, se necessário, a complementação com pós-emergentes”, comenta.
Dentro do manejo em pós-emergência, Mauro ainda aponta uma particularidade a ser considerada. “Temos que, claro, visar a redução do banco de sementes, inviabilizando novos fluxos de emergência, mas acima de tudo precisamos diminuir a matocompetição inicial, fator que irá agregar muito no ganho de produtividade da cultura e redução do potencial de perdas”, destaca.
O evento
O Seminário Técnico do Trigo 2024 foi realizado em Campo Mourão (PR) e reuniu cerca de 280 pessoas, entre técnicos, cooperativas, cerealistas, produtores de sementes, multiplicadores e triticultores do Paraná, São Paulo, Mato Grosso do Sul e Paraguai. O evento contou com o patrocínio de Basf, Bayer, Syngenta, Ihara, Laborsan, Yara e UPL.