Brazil
June 16, 2017
Pará é um grande importador de feijão de outras regiões do país - Photo: Ronaldo Rosa
A região de Paragominas (PA) é um polo de produção de grãos promissor. A cada ano crescem as áreas de cultivos, liderados por soja e milho. Em função do clima da região, no entanto, os produtores encontram dificuldade para obter uma segunda safra no ano, a chamada safrinha. “Se plantar milho em abril, por exemplo, considero um risco altíssimo, pois com as chuvas escassas não dá tempo para o grão encher”, avalia o engenheiro agrônomo Oduvaldo Oliveira, do escritório da Emater em Dom Eliseu (PA).
Uma alternativa ao problema é a adoção de um cultivo de ciclo mais curto, como o feijão-caupi, para ser plantado na sequência à colheita da safra principal. A cultura foi apresentada pela Embrapa Amazônia Oriental na Agroshow, evento de negócios e exposição de tecnologias que ocorreu mês passado em Paragominas. “Dependendo da variedade, ele pode ser colhido com 65 dias”, afirma o pesquisador Francisco Freire. O período é bem inferior ao do milho, que pode exigir mais de cem dias para a maturação.
Com origem no Paraná, os produtores Adriano Borilli e seu pai, Vivaldino Borilli, estiveram na Agroshow para buscar informações sobre as seis cultivares de feijão-caupi que a Embrapa apresentou no evento. Eles pretendem ingressar na produção do grão em uma propriedade em Paragominas. Estabelecidos há nove anos no município, os Borillis se dedicavam somente à pecuária até dois anos atrás, quando então passaram a combinar a rotação de cultivos com pastagem na mesma área. “O feijão-caupi vai entrar nesse sistema de integração lavoura e pecuária”, afirma Adriano. Para tanto, eles plantaram 15 hectares neste ano para produção de sementes. “No próximo ano pensamos em produzir em 60 hectares para comercialização”, disse Adriano.
Sobre as razões da escolha, Adriano alega que o maquinário para a cultura do feijão-caupi não difere daquele que eles já utilizam para o plantio de milho. E a menor exigência de água por essa cultura também é um atrativo. Em relação ao mercado, o produtor confessa não ter dados, mas é otimista. “Informações de compradores vamos ter de buscar ainda, mas acredito que é uma cultura que tem bom potencial para essa região”, conclui.
A aposta dos produtores tem fundamento. De acordo com o pesquisador Francisco Freire, o Pará é um grande importador de feijão de outras regiões do país e os produtores locais poderiam dar conta dessa demanda ao plantá-lo na sucessão da colheita da soja ou do milho. Ele cita o caso do Mato Grosso como um exemplo. Sem tradição no consumo ou na produção de feijão-caupi, o estado se tornou um grande produtor do grão. “Havendo qualidade e regularidade no fornecimento do produto, encontra-se mercado”, afirma o pesquisador.
No município vizinho a Paragominas, Dom Eliseu, Oduvaldo Oliveira também tem interesse em plantar feijão-caupi no próximo ano, seguindo exemplo da propriedade vizinha a sua, que já cultiva cerca de 100 hectares de feijão-caupi há alguns anos. Segundo ele, as principais dúvidas dos produtores recaem sobre o controle de pragas e os níveis adequados de adubação.
Mesa - Originário da África, o feijão-caupi foi introduzido no Nordeste brasileiro no período colonial e se adaptou bem ao clima daquela região e ao da Amazônia. Além da melhor adequação ao regime de chuvas na região de Paragominas, o feijão-caupi apresenta também características vantajosas aos consumidores.
No Pará, predomina na mesa da população o feijão da espécie Phaseolus vulgaris L., conhecido como feijão comum. De acordo com o pesquisador Francisco Freire, o feijão-caupi, espécie Vigna unguiculata (L.) Walp, exige menor tempo de cozimento do que o feijão-comum. “Em geral o caupi precisa de 60% do tempo de preparo do feijão Phaseolus”, explica. Além de ficar pronto mais rápido, outro atrativo ao consumidor é que ele oferece uma digestão menos pesada do que o feijão comum.
Os produtores interessados em adquirir sementes das cultivares de feijão-caupi da Embrapa podem procurar os escritórios da empresa em Petrolina (PE), e-mail: spm.epnz@embrapa.br e telefone (87) 3862-2626, ou em Rondonópolis (MT), e-mail: spm.ernd@embrapa.br e telefone (66) 3422-9009.